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16 de dezembro de 2013

Crítica: Somos o Que Somos

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Muito clima, pouca surpresa.
O que faz as pessoas fazerem o que fazem ou serem o que são? Quais são as crenças por trás de nossas decisões? Neste remake da produção mexicana “Somos lo Que Hay”, de 2010, temos horror e suspense regados a loucura, temperado com fervor religoso, uma família disfuncional e um segredo perturbador.
Apostando em clima opressivo, “Somos o que Somos” nos coloca frente a frente com um dos piores tipos de maníaco – aquele que tem certeza absoluta de que está certo no que faz. E que Deus está a seu lado, por pior que ele seja.
Mas ao mesmo tempo, com alguns furos e problemas espalhados pela produção, é um dos casos que a intenção de fazer algo grande é maior do que o resultado.
A família Parker vive de modo discreto e recluso em uma cidade interiorana dos EUA. Com a chegada da época das chuvas, a matriarca Emma (Kassie Wesley DePaiva) sofre um acidente e falece. Frank (Bill Sage) reúne suas filhas e revela que, com a morte da mãe, a mais velha, Iris (Ambyr Childers) teria que assumir responsabilidades macabras na estranha religião que seguem, tomando parte ativa de um segredo obscuro que ocultam de todos da cidade.
Rose (Julia Garner), a filha do meio, cansada das tradições antigas, está resistente com o novo papel e passa a pensar em desafiar o pai. Ao mesmo tempo, a chuva torrencial começa a revelar restos de ossos humanos nas redondezas, chamando a atenção do subdelegado Anders (Wyatt Russell) e do médico local, Dr. Barrow (Michael Parks), que passam a suspeitar dos Parker.
“Somos o que Somos” começa mostrando de um modo muito orgânico a vida dos Parker. Vemos o preparo de um jejum para um tipo de feriado que só a família parece comemorar. Mesmo os pedidos por comida do filho caçula Rory (Jack Gore) – jovem demais para entender de tradições – são recusados e até punidos. Tudo é feito seguindo o livro de sua religião, um tipo de Bíblia que Frank guarda com carinho antes de passar para a filha mais velha.
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Fica claro que para os vizinhos e o resto da cidade, o comportamento dos Parker, em especial o de Frank, é fora do comum. Eles tem consciência disso, mas pregam com orgulho que a maneira que a família age deve ser mantida. Só esse tipo de obsessão que toma conta do patriarca e aterroriza suas filhas já é o suficiente para adicionar uma boa tensão no público. Quando temos evidências que as mortes e desaparecimentos que tem ocorrido na região podem ser culpa dos Parker, tudo piora ainda mais.
Junto disso, a fotografia e a montagem são alguns dos pontos fortes. Um dos pontos altos do filme, por exemplo, reúne três narrações simultâneas, alternadas, todas crescentes até que haja uma conclusão simultânea. A trilha sonora ajuda muito, misturando desde sucessos antigos, com o estilo interiorano da cidade em que se passa a história, até uma trilha original cheia de suspense.
A primeira metade da narração foca no segredo da família, mostrando pequenas dicas até que haja a grande revelação. Claro, não daremos detalhes para não estragar a surpresa, por mais que os perspicazes possam suspeitar do que se trata só de assistirem o trailer.
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Infelizmente, porém, vemos que este estilo mais perturbador do começo não se mantém, e logo o roteiro passa a tropeçar em seus próprios pés: Para começar, a revelação, talvez por demorar demasiadamente, fica óbvia, perdendo força no momento em que ocorre.
Além de tudo, o roteiro tem furos consideráveis, tanto na incompetência da polícia e outros personagens, quanto com sequências inteiras que mais servem para facilitar o roteiro do que qualquer coisa. Existe um assassinato inteiro que ocorre meramente para evolução da história, já que a motivação para que ele ocorra, na prática, não condiz com os outros elementos que vimos até então (e até mesmo com os que vemos depois).
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As estranhezas da religião dos Parker prosseguem conforme a história continua, mas a certo ponto não são mais suficientes para manter o clima, e o que parecia que seria uma abertura para críticas sobre fanatismo religioso cai por terra, de certo modo enfraquecendo ainda mais a narração.
Os atores se esforçam e de fato não há do que reclamar no que toca à atuação, mas os personagens são pouco interessantes e tendem a cair em ações previsíveis. Há uma tentativa de evolução de personagens, focada principalmente em Rose, que tenta abandonar as tradições da família, mas falta conteúdo para gerar mais envolvimento.
De longe, porém, o fim é o que deixa um gosto pior. Tentando uma grande mudança no rumo da história, temos uma cena que inegavelmente surpreende, mas que ao mesmo tempo trai o próprio filme, anulando tanto decisões anteriores de personagens quanto tentando, sem sucesso, causar impacto. “Forçado” é a melhor palavra que o descreve.
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Não é um terror ruim – os novatos do gênero com certeza terão muito com que se assustarem. Mas não deve ser a escolha principal de muitos. O que é uma pena, já que com a boa qualidade de produção e com a base interessante da história, o resultado final poderia ter sido muito melhor.
Fonte:POP

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